Objetos Extensos em Movimento de Rotação
Na seção anterior, discutimos a conservação do momento angular em diversas situações. Em todas elas, o sistema envolvia a rotação de objetos/corpos extensos, como uma bailarina rodopiando, um homem girando sentado na cadeira e segurando uma roda de bicicleta, etc.
Em todos eles, nós conseguimos compreender os fenômenos envolvidos, de forma qualitativa, à luz da lei da conservação do momento angular. Em nenhum momento questionamos qual deveria ser a velocidade da bailarina quando recua os membros. Só dizemos que a sua velocidade de rotação aumenta.
Se queremos fazer uma análise quantitativa, é fato que precisamos determinar o momento de inércia de um corpo extenso.
Sabemos que para uma partícula de massa
executando um movimento circular de raio
em torno de um eixo fixo é
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I = m r^2 \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-249d7cf02594d11711827ca935a74ff2_l3.png)
Considere agora a rotação de um objeto extenso formado por
partículas, de massa
cada. Se o objeto é rígido, obviamente as massas estão fixas entre si, assim como as distâncias
‘s até o eixo de rotação.

Neste caso, o momento de inércia do objeto é simplesmente a soma dos momentos de inércia de cada partícula
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I = \sum_i^N m_i r_i^2 \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-2720604a91547451431450e941b44ac4_l3.png)
A adaptação para um objeto extenso e contínuo segue imediatamente da expressão acima. Deixamos o link abaixo para quem tiver o interesse em calcular o momento de inércia para esse tipo de objeto.
Escrevemos acima a expressão para o momento de inércia de um corpo extenso granular. Caso o corpo seja contínuo, podemos imaginá-lo como sendo formado por partes muito pequenas de massa, cada uma com massa
tendendo a zero. Assim,
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I=\lim_{\Delta m_{i} \rightarrow 0} \sum {r_{i}}^{2}\Delta m_{i} \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-2ff7927e00fda882300288bdf557e18f_l3.png)
Na linguagem do cálculo, a somatória de coisas infinitesimais torna-se uma integral:
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I = \int r^2 dm \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-40483d610014f391f9933cece4cd00ba_l3.png)
A expressão acima é formal. Na prática, teremos de conhecer como a massa se distribui num objeto. Se ele for maciço tridimensional, devemos conhecer a sua densidade volumétrica de massa,
, que é massa por volume. Se a distribuição de massa não for homogênea, temos que
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ \rho = \frac{dm}{dV} \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-09474350d1ac07f9862dbfc0c378046a_l3.png)
Logo, o momento de inércia será dado por
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I = \int_\textrm{volume} \rho r^2 dV \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-fdaa6581f17e875ed36103d27dfdf877_l3.png)
Para ilustrar como a fórmula acima funciona, vamos considerar um objeto mais simples; uma barra muito fina de comprimento
e massa m.
Neste caso, a distribuição da massa se dá ao longo do objeto e portanto temos uma densidade linear de massa,
, onde
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ \lambda = \frac{dm}{d\ell} \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-cdc12820c89c11f85f322567acce9cde_l3.png)

O momento de inércia fica, portanto,
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I = \int \lambda r^2 d\ell \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-c9e0066e74fa9df6596d038553a233b4_l3.png)
Vamos calcular o momento de inércia em relação a um eixo perpendicular à barra, que passa pelo centro de massa. Além disto, vamos assumir que a distribuição de massa é uniforme, ou seja,
é constante, dada por
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ \lambda = \frac{m}{L} \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-656d4e8805a2dafca003bb2998494a91_l3.png)
Vamos colocar a barra sobre o eixo
, com o seu centro de massa coincidindo com a origem
desse eixo. Para calcular o momento de inércia em relação ao eixo que passa pelo centro de massa e é perpendicular ao plano da tela, temos que
é a distância do elemento de massa
até o eixo.

Temos que
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I_{cm} = 2 \lambda \int_0^{L/2} x^2 \; dx \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-e6c5c4b0cd9f02cad015a8dedcb39be3_l3.png)
O fator 2 surge porque tem o pedaço da barra à esquerda do eixo de rotação, que se estende de
até
.
A integral dá
. Substituindo os limites e o valor de
, obtemos
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I_{cm} = \frac{1}{12} m L^2 \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-69ebd053ab331c8a646afb518b53b29e_l3.png)
Se a mesma barra girar em torno de um eixo, também perpendicular a ela e que passa por um das extremidades, o momento de inércia será
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I = \int_0^L \lambda x^2 dx = \lambda \frac{x^3}{3}\bigg|_0^L \quad \Rightarrow \quad I = \frac{1}{3} mL^2 \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-2153bbb0f528ae6bc1ffd55477434c03_l3.png)
O link abaixo fornece o momento de inércia para vários formatos de objetos.
Momento de inércia de vários objetos
Uma coisa importante para se observar é que o valor do momento de inércia depende do eixo o qual o objeto está girando. De fato, a partir da definição do momento de inércia, dá para se concluir qualitativamente que quanto maior a distância das massas em relação ao eixo de rotação, maior é o momento de inércia. É o que ocorre, por exemplo, quando seguramos os halteres com os braços abertos, que é maior do que quando fechamos os braços.
Por exemplo, o momento de inércia de uma barra fina de massa
e comprimento
é
em relação ao eixo de rotação que passa pelo centro de massa da barra e é perpendicular a ela. Se o eixo estiver localizado numa extremidade da barra e continuar perpendicular a ela, o momento de inércia passa a ser
.
Observamos que
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I = I_{cm} + m L^2 \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-b8e1f58cf8fe99849e411aeef3aa7aa6_l3.png)
onde
no segundo termo à direita corresponde, além do comprimento da barra, à distância entre os eixos. Veremos que esse resultado é geral, dado pelo teorema dos eixos paralelos, o qual afirma que
O momento de inércia de um corpo em relação a um eixo qualquer paralelo ao eixo principal, que passa pelo centro de massa do objeto, é igual à soma do momento de inércia em relação a esse eixo principal, dado por
, com
, onde
é a distância entre os eixos.
Logo,
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I = I_{cm} + mh^2 \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-b06653d3f969b38d0034e245414537cb_l3.png)
A figura abaixo mostra uma situação onde o teorema dos eixos paralelos pode ser aplicado.

Caso queira saber como se demonstra o teorema dos eixos paralelos, clique no link abaixo.
Seja o ponto
a origem do sistema de coordenadas cartesianas, onde se localiza o centro de massa de um corpo de forma arbitrária. Considere o eixo
como sendo um eixo de rotação e um outro eixo, paralelo a este, passando pelo ponto
, caracterizado pelas coordenadas
e
. Temos que a distância entre esses dois eixos paralelos é
.

Considere um elemento de massa
do objeto que se encontra na posição dada pelas coordenadas
e
. Em relação ao ponto
, a distância é
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ r^\prime = \sqrt{(x-a)^2 + (y-b)^2} \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-6f630fda0d6c7db9f5fc4bee0443d746_l3.png)
O momento de inércia em relação ao ponto
é dado por
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I=\int r^{\prime 2}dm=\int \left [ \left ( x-a \right )^2+\left ( y-b\right )^2 \right ]dm \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-6a0e9da01e5ad738a14deedf5357496b_l3.png)
Abrindo os termos ao quadrado e lembrando que a integral da soma é a soma das integrais, temos
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I=\int \left ( x^2+y^2\right )dm-2a\int xdm-2b\int ydm+\left ( a^2+b^2 \right ) \int dm \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-437d9d799bd61ac5547e2ab6726df3db_l3.png)
A primeira integral acima é o centro de massa em relação ao centro de massa (que está na origem do sistema de coordenadas).
Já o segundo termo e o terceiro representam, respectivamente, a posição
do centro de massa e a posição
multiplicadas pela massa total veja a seção que discutimos o centro de massa . Como o centro de massa está na origem, temos que
.
O último termo possui o termo
multiplicado pela integral, que dá a massa total do sistema.
Logo, mostramos que
![Rendered by QuickLaTeX.com \[ I = I_{cm} + m h^2 \]](https://leis-de-conservacao.propg.ufabc.edu.br/wp-content/ql-cache/quicklatex.com-f3ccc64d3168e85509502b90ddc9bb8f_l3.png)
Vídeo: Momento de inércia
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