Objetos Extensos em Movimento de Rotação
Na seção anterior, discutimos a conservação do momento angular em diversas situações. Em todas elas, o sistema envolvia a rotação de objetos/corpos extensos, como uma bailarina rodopiando, um homem girando sentado na cadeira e segurando uma roda de bicicleta, etc.
Em todos eles, nós conseguimos compreender os fenômenos envolvidos, de forma qualitativa, à luz da lei da conservação do momento angular. Em nenhum momento questionamos qual deveria ser a velocidade da bailarina quando recua os membros. Só dizemos que a sua velocidade de rotação aumenta.
Se queremos fazer uma análise quantitativa, é fato que precisamos determinar o momento de inércia de um corpo extenso.
Sabemos que para uma partícula de massa executando um movimento circular de raio em torno de um eixo fixo é
Considere agora a rotação de um objeto extenso formado por partículas, de massa cada. Se o objeto é rígido, obviamente as massas estão fixas entre si, assim como as distâncias ‘s até o eixo de rotação.
Neste caso, o momento de inércia do objeto é simplesmente a soma dos momentos de inércia de cada partícula
A adaptação para um objeto extenso e contínuo segue imediatamente da expressão acima. Deixamos o link abaixo para quem tiver o interesse em calcular o momento de inércia para esse tipo de objeto.
Escrevemos acima a expressão para o momento de inércia de um corpo extenso granular. Caso o corpo seja contínuo, podemos imaginá-lo como sendo formado por partes muito pequenas de massa, cada uma com massa tendendo a zero. Assim,
Na linguagem do cálculo, a somatória de coisas infinitesimais torna-se uma integral:
A expressão acima é formal. Na prática, teremos de conhecer como a massa se distribui num objeto. Se ele for maciço tridimensional, devemos conhecer a sua densidade volumétrica de massa, , que é massa por volume. Se a distribuição de massa não for homogênea, temos que
Logo, o momento de inércia será dado por
Para ilustrar como a fórmula acima funciona, vamos considerar um objeto mais simples; uma barra muito fina de comprimento e massa m.
Neste caso, a distribuição da massa se dá ao longo do objeto e portanto temos uma densidade linear de massa, , onde
O momento de inércia fica, portanto,
Vamos calcular o momento de inércia em relação a um eixo perpendicular à barra, que passa pelo centro de massa. Além disto, vamos assumir que a distribuição de massa é uniforme, ou seja, é constante, dada por
Vamos colocar a barra sobre o eixo , com o seu centro de massa coincidindo com a origem desse eixo. Para calcular o momento de inércia em relação ao eixo que passa pelo centro de massa e é perpendicular ao plano da tela, temos que é a distância do elemento de massa até o eixo.
Temos que
O fator 2 surge porque tem o pedaço da barra à esquerda do eixo de rotação, que se estende de até .
A integral dá . Substituindo os limites e o valor de , obtemos
Se a mesma barra girar em torno de um eixo, também perpendicular a ela e que passa por um das extremidades, o momento de inércia será
O link abaixo fornece o momento de inércia para vários formatos de objetos.
Momento de inércia de vários objetos
Uma coisa importante para se observar é que o valor do momento de inércia depende do eixo o qual o objeto está girando. De fato, a partir da definição do momento de inércia, dá para se concluir qualitativamente que quanto maior a distância das massas em relação ao eixo de rotação, maior é o momento de inércia. É o que ocorre, por exemplo, quando seguramos os halteres com os braços abertos, que é maior do que quando fechamos os braços.
Por exemplo, o momento de inércia de uma barra fina de massa e comprimento é em relação ao eixo de rotação que passa pelo centro de massa da barra e é perpendicular a ela. Se o eixo estiver localizado numa extremidade da barra e continuar perpendicular a ela, o momento de inércia passa a ser .
Observamos que
onde no segundo termo à direita corresponde, além do comprimento da barra, à distância entre os eixos. Veremos que esse resultado é geral, dado pelo teorema dos eixos paralelos, o qual afirma que
O momento de inércia de um corpo em relação a um eixo qualquer paralelo ao eixo principal, que passa pelo centro de massa do objeto, é igual à soma do momento de inércia em relação a esse eixo principal, dado por , com , onde é a distância entre os eixos.
Logo,
A figura abaixo mostra uma situação onde o teorema dos eixos paralelos pode ser aplicado.
Caso queira saber como se demonstra o teorema dos eixos paralelos, clique no link abaixo.
Seja o ponto a origem do sistema de coordenadas cartesianas, onde se localiza o centro de massa de um corpo de forma arbitrária. Considere o eixo como sendo um eixo de rotação e um outro eixo, paralelo a este, passando pelo ponto , caracterizado pelas coordenadas e . Temos que a distância entre esses dois eixos paralelos é .

Considere um elemento de massa do objeto que se encontra na posição dada pelas coordenadas e . Em relação ao ponto , a distância é
O momento de inércia em relação ao ponto é dado por
Abrindo os termos ao quadrado e lembrando que a integral da soma é a soma das integrais, temos
A primeira integral acima é o centro de massa em relação ao centro de massa (que está na origem do sistema de coordenadas).
Já o segundo termo e o terceiro representam, respectivamente, a posição do centro de massa e a posição multiplicadas pela massa total veja a seção que discutimos o centro de massa . Como o centro de massa está na origem, temos que .
O último termo possui o termo multiplicado pela integral, que dá a massa total do sistema.
Logo, mostramos que
Vídeo: Momento de inércia
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