Forças Conservativas e Não-Conservativas
Considere uma força atuando sobre um corpo. A força é dita conservativa se o trabalho realizado por ela não depende do caminho percorrido, mas somente das posições inicial e final do corpo .
Para os caminhos 1 e 2 acima, temos
Se invertermos o sentido do caminho 2 percorrido, mantendo a mesma força, temos que o sinal do trabalho muda:
ou seja,
Mas a soma à direita representa o trabalho do percurso total, ida e volta. É um caminho fechado, onde o corpo parte de um ponto e chega num ponto através do caminho 1 e volta para pelo caminho 2:
O resultado mostra que para uma força ser classificada como conservativa, o trabalho realizado por ela, sobre um corpo, é nulo para um caminho fechado (o corpo volta para o mesmo ponto de partida). A condição acima é necessária, mas não é o suficiente.
Vamos mostrar a seguir que o trabalho da força magnética, por exemplo,é nulo. No entanto, esta força é não-conservativa.
A força magnética surge quando um corpo carregado com carga se move em uma região com campo magnético. Se o corpo de carga elétrica e velocidade adentrar uma região do espaço com campo magnético , ele sentirá uma força magnética cuja intensidade é dada por
onde é o ângulo formado pelos vetores velocidade e campo magnético. A direção da força é perpendicular tanto à velocidade como ao campo magnético e o sentido é dado pela regra da mão direita, ilustrada na figura abaixo à direita; quatro dedos da mão direita fazem o movimento de para e o polegar dá a direção de .
Em notação vetorial mais avançada, a fórmula se resume a
onde denota o produto vetorial entre os vetores velocidade e campo magnético.
Como a velocidade instantânea é paralela ao vetor deslocamento, temos que a força magnética atuando num corpo é sempre perpendicular ao seu deslocamento. Logo, como não haverá componente de na direção do movimento, temos a seguinte conclusão:
Existe uma condição mais forte (necessária e suficiente) que uma força conservativa deve obedecer, mas a discussão envolve um conhecimento de Cálculo Vetorial, uma ferramenta imprescindível no estudo da Física e engenharia, mas bastante avançada para o nível deste site. Deixamos um link para curiosos ou quem quiser se aprofundar no assunto.
Trabalho de forças conservativas – exemplos
Como por definição o trabalho de forças conservativas não dependem de caminho, por simplicidade, vamos considerar uma trajetória unidimensional para os exemplos a seguir – o corpo se move em linha reta, a qual chamaremos de eixo . Neste caso, evidentemente o caminho de ida é igual ao caminho de volta.
Trabalho da força gravitacional (próximo à superfície da Terra)
Próximo à superfície da Terra, a força gravitacional (ou força peso) sobre um corpo de massa é dada por , onde é o campo gravitacional produzido pela Terra. Próximo à sua superfície, possui valor constante aproximado de 9,8 m/s. Se soltarmos qualquer objeto e desprezar a resistência do ar, ela cairá com aceleração de módulo igual a .
Vamos calcular o trabalho da força gravitacional sobre o corpo descendo uma rampa e mostrar explicitamente que ele não depende do comprimento da rampa, mas somente da altura da posição inicial em relação à posição final , conforme mostra a figura abaixo:
Conforme mostra a figura acima, a força gravitacional e o vetor deslocamento formam um ângulo . A componente de na direção do deslocamento é .
Como é constante ao longo da rampa, podemos usar a fórmula do trabalho para uma força constante:
Por outro lado, a rampa forma a hipotenusa de um triângulo retângulo que tem a altura como sendo um dos seus catetos. Como é cateto adjacente em relação ao ângulo , temos que
Substituindo na equação do trabalho, obtemos
Se ao invés de descer pela rampa, se o corpo fizer uma trajetória vertical de até e depois uma trajetória horizontal de para , teremos
onde o segundo termo é zero porque a força gravitacional é perpendicular ao deslocamento horizontal. Logo,
conforme esperado para uma força conservativa.
Podemos generalizar o resultado para qualquer caminho de para , como o caminho ondulado acima da rampa. Para isto, basta dividirmos a trajetória em pequenos trechos verticais e horizontais. Os trechos horizontais dão trabalho nulo e a soma dos trechos verticais dá .
Não é difícil mostrar que o trabalho de subida, de até é , de forma que o trabalho do trajeto fechado (descida + subida) é zero, como deveria ser.
Trabalho da força gravitacional – caso geral
Próximo à superfície da Terra, um corpo de massa é atraído à Terra pela força gravitacional . Esta força é um caso particular da força responsável pela atração entre corpos, postulada por Newton através da Lei da Gravitação Universal, a qual diz que
Como os corpos se atraem mutualmente, a força está na direção que conecta os seus centros de massa e o seu módulo é
onde e são as massas dos corpos, é a distância que separa os seus centros de massa e a constante gravitacional universal, cujo valor aceito atualmente é
Como o próprio nome diz, essa constante é universal; não importa se trata da queda de uma maçã, um satélite que é mantido na órbita da Terra, a atração gravitacional que o Sol exerce sobre a Terra, etc.
A força de gravitação universal de Newton é uma das forças fundamentais da Natureza e obedece a terceira lei de Newton, ou seja,
Para calcular o trabalho realizado pela força gravitacional, vamos manter o corpo 1 fixo e deslocar somente o corpo 2. Inicialmente, estão separados por uma distância e após o deslocamento, passam a estar separados por uma distância , conforme mostra a figura abaixo.
Como o trabalho da força gravitacional não depende do caminho, vamos escolher o caminho 2, constituido dos trechos e . No segundo trecho, a força é perpendicular ao deslocamento, portanto o trabalho não é nulo. Temos portanto que
O sinal negativo na força é porque quando o corpo 2 vai se afastando ( aumenta), a força sobre ele aponta no sentido contrário ao do deslocamento.
Um curso introdutório de Cálculo é o suficiente para entender que . Substituindo os limites da integral,
Trabalho da força elástica
O trabalho da força elástica já foi calculada na página “Trabalho e Energia Cinética“. Iremos agora só mostrar que o trabalho dessa força respeita a condição necessária para o trabalho de uma força conservativa.
Recordando que a força elástica é dada por , o trabalho realizado por essa força atuando num corpo, de até , é dado por
onde como podem ser tanto deformação quanto elongação da mola. Se fizermos a troca , temos que e portanto o trabalho total ida e volta dá zero.
A simulação a seguir permite verificar que para um percurso de ida e volta, as deformações são iguais e as contribuições de trabalho positivo e negativo se cancelam, pois tem a mesma intensidade mas sinais opostos devido ao sentido da deformação e da força.
Trabalho de força não conservativa – a força de atrito
Trabalho da força de atrito
A força de atrito cinético atuando sobre um corpo de massa deslizando sobre uma superfície rugosa é dada por
onde é a força normal. Por simplicidade, vamos analisar o movimento do corpo andando em linha reta, horizontal à superfície da Terra. Neste caso, , e observamos que a força de atrito sempre tem o sentido contrário do movimento. A força puxando o bloco não influencia em nada o cálculo do trabalho da força de atrito.
Novamente, como o módulo da força de atrito é constante, o cálculo do trabalho é simples. Observa-se, no entanto, que o sentido da força de atrito é sempre contrário ao do deslocamento. Com isto,
Se o corpo percorrer uma distância entre as posições e , temos que . Logo,
Temos portanto que